A embarcação

OPINIÃO - ROSEANE SOUZA

Roseane Souza

3/15/20231 min read

A gentileza flutuou, tal qual uma embarcação navegando em um mar calmo e eu fui convidada a escrever nesse blog. E é nesses instantes da vida que penso na crônica da Marina Colassanti: “Eu sei que a gente se acostuma, mas não deveria.”

Eu me acostumei.

Me acostumei a correria e no vai e vem da vida abandonei meus hobbies, minhas preferências, minhas leituras, meus textos…mas estou resgatando e para isso, tenho que estar vulnerável.

Eu estou vulnerável.

Demorei dias para escrever essa frase e mais tempo ainda para aceitar que estou cansada de só sobreviver, só ser forte…agora entendo que minha vulnerabilidade me faz mais humana, mais emocionada, mais sensível. A vida não é um fardo, é a consequência dos bons e maus momentos, conforme as ondas do mar, uma hora agitada e outra calmaria.

Eu estou vivendo.

Ainda sou uma sobrevivente, mas a escrita está resgatando agora algo meu perdido depois de tantos anos, meu sentimentos mais profundos, a liberdade dentro de mim. Estou viva, sinto que não deveria ter me acostumado, que não deveria ter tentado ser forte o tempo todo, que a sensibilidade em se deixar ser vulnerável em algum momentos é estimulante.

Essa embarcação chamada vida nem sempre navega tranquilamente, mas você não está cansado? Cansado de abrir mão do que te dá prazer, a satisfação que impulsiona você a cumprir seus deveres que garante a sua existência? O que você deixou para trás? Em qual momento da sua vida aquela pequena parte só sua, bela, você abandonou?

A embarcação avança lentamente na esperança de que você possa recordar.

Eu recordei.