O apagamento histórico de mulheres em STEM
uma questão de dados, memória e poder
Jessica Pereira
2/12/20252 min read


Ontem, 11 de fevereiro, celebramos o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Uma data criada para reforçar a importância de reconhecer e promover a participação de mulheres em STEM (Science, Technology, Engineering, Mathematics).
Mas, para além das homenagens, essa data também nos convida a uma reflexão profunda: quantas histórias de mulheres em STEM foram apagadas — e continuam sendo?
Recentemente, nos EUA, assistimos a um movimento que deve nos preocupar: o apagamento sistemático de dados sobre mulheres em STEM.
Exemplos disso incluem a remoção de listas de mulheres pioneiras em ciência e tecnologia de sites oficiais, como o da NASA, apagando registros que servem como inspiração e prova histórica de suas contribuições. Informações valiosas desapareceram sem aviso prévio, dificultando o acesso a essas histórias e fragilizando as bases para a construção de políticas públicas de inclusão.
O apagamento não é apenas histórico, ele acontece em tempo real, nos registros oficiais, nas estatísticas suprimidas e até nos currículos escolares. Essa ausência de dados é uma escolha política que transforma mulheres em invisíveis no papel e, consequentemente, na memória coletiva.
Exemplos que nos desafiam a lembrar
Katherine Johnson, cuja história só se tornou amplamente conhecida décadas depois, graças ao filme Estrelas Além do Tempo. Antes disso, a matemática que ajudou a levar o homem à Lua havia sido quase esquecida.
Hedy Lamarr, a atriz que inventou a tecnologia precursora do Wi-Fi, mas por muitos anos não foi reconhecida por essa contribuição.
Rosalind Franklin, cujas descobertas foram fundamentais para a identificação da estrutura do DNA, mas cujo crédito foi atribuído principalmente a seus colegas homens.
E esses são apenas os nomes que conhecemos, após um esforço consciente de resgate. Quantas mais continuam enterradas nos arquivos, nas entrelinhas de histórias que nunca nos foram contadas?
Sem dados, sem história. Sem história, sem memória.
Quando apagamos as contribuições de mulheres, reforçamos a falsa ideia de que a ciência é um espaço predominantemente masculino. Isso cria um ciclo perverso: meninas não encontram referências femininas na ciência e, por isso, acreditam que aquele espaço não lhes pertence.
Esse apagamento afeta não apenas o reconhecimento histórico, mas também as políticas públicas e estratégias de diversidade e inclusão. Sem dados claros sobre a presença e contribuição de mulheres em STEM, como podemos medir avanços ou retrocessos?
Celebrar o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência é essencial, mas não basta.
Nas últimas semanas, profissionais de diversas áreas se mobilizaram para resistir a essa tentativa de invisibilização. De cientistas criando sites alternativos para preservar histórias, a designers e desenvolvedores oferecendo apoio para recuperar esses dados, uma rede global está se formando para garantir que mulheres em STEM continuem sendo vistas, lembradas e celebradas.
Precisamos garantir que nossas histórias sejam preservadas, que nossos nomes não sejam esquecidos e que a próxima geração de cientistas encontre o espaço que muitas de nós nunca tiveram.
A luta contra o apagamento é coletiva. Como podemos agir hoje para garantir que o passado não se repita?